Deitada na minha cama silenciosa.
Oiço o barulho lá fora.
Poucas crianças
Ainda brincam na rua
[Já começam a ser raras aqui
Os cães uivam violentamente.
Não gostam destes intrusos na rua
Distantes memórias
Invadem o meu pensamento.
Luxúrias, tentações.
Recordações que me
Afagam... docemente,
Recordações que me
Acariciam como se
Fossem tuas mãos
Enleadas em meus cabelos.
Tuas mãos, ora esquivas
Ora sedentas..
Quando estou só
Na minha cama
E fecho os olhos,
Só tua voz eu oiço,
Só tua pele eu sinto
Só teu corpo quente
Tocando o meu devagar..
Mil delícias, mil carinhos..
Como te desejo!
Sadismo atroz do tempo
Faz com que me renda
Ao Amanhã..
Nem sempre foi assim,..
Ou foi?!
Quando queria deleitar-me
com um prazer,
[mais ou menos proibido,
Aquele pêndulo era apressado e voava!
Agora que tenho um grilhão,
Um qualquer martírio,
O mesmo pêndulo tranquilo,
Pauta os segundos com delicadeza,
Sem pressa nem pressão!
Falta pouco..
É daqui a nada.
O Agora!
O Já!
Só a escuridão da noite
Pode ser nossa companheira
A luz do dia feriu-nos demais
[Por isso] Acabamos por ser a rebeldia a esses cobardes..
Somos os dois a caminhar
Bem longe..
Longe daqueles olhares
Que me pregaram asas e
[te cravaram espinhos..
São tão puros, tão graciosos,...
Mal sabem o peso destas asas,
[como sangram os espinhos..
Mas falam tão bem de integridade
Quando são mais que imundos..!
Desculpa pesar tanto.
Sou um duro enguiço..
Nas minhas costas,
Mil penas, mil angústias..
Espero algum dia poder ser
Quem te ajuda nesta vil caminhada..
Até lá... ninguém saberá!!