Estou tão cansada
Destas grades frias.
Sei que a minha vida
Está algures do outro
Lado a ser vivida
Não sei por quem,
Mas bem longe daqui!
Deste sitio sinistro onde
Oiço todos os gritos e lamentos
Do mundo, mas minhas frágeis
Súplicas nem se ouvem...
O meu som não se propaga
Neste diminuto canto vazio,
A luz fica cativa das trevas,
Que assombram esta clausura.
Nem forças quero ter para
Me torturar com recordações
De rios calmos e mornos.
Isso já me parece tão distante,
Longos dias soalheiros,
Noites em que o teu corpo
Era vibrante perto do meu,
Teu abraço, meu repouso
Não quero estar aqui!
Não quero ser assim,
Tão insignificante para ti.
Onde estás?
- Chegou a tua hora! Estás preparada?
- Não... eu não quero ir...
- Não podes impedir o que é inevitável.
- Mas eu tenho ainda tanto para fazer, eu não quero deixar a vida desta maneira...
- Foste tu que escolheste a tua vida.
Deram-te vários caminhos e tu escolheste esse!
- Eu não pude escolher a dor. Não sou masoquista.
- És!
Prova disso é toda a tua vida.
Sofrer por causas perdidas, por assuntos encerrados.
- Não estavam encerrados, eu nunca os encerrei! Encerraram por mim! Eu não queria isto assim.
- Tenho pena mas não posso deixar-te desse lado. Tu vens comigo!
- Dá-me uma oportunidade...!
- Não há mais oportunidades, tu desperdiças-te todas.
Agora vem. Fecha os olhos, ou se quiseres, contempla a luz...
- Não quero ir. Não pode ser assim.
Salto. Acordo. Choro.
Foi um aviso!
Ouve o meu grito de desespero.
Segura-me aqui, eu não quero ir.
Abraça-me bem forte.
Não deixes as lágrimas
Rolarem pelo meu rosto.
Não quero ir!
![]() | Eu suplicava, pelos cantos escuros Desta vida, algo distante: Amor. Um pedaço desse Doce encanto que só via noutros. A brandura do teu Olhar acarinhou-me.. Suavemente cuidaste de Todas as chagas, Todos os ferimentos Em carne viva desta minha Negra alma torturada De passado tempestuoso, Que em noites frias Ainda surgia como um Espectro tortuoso, cobrador de Memórias de felicidade De tempos idos e espinhoso. |
Só tu és o morno da seara,
Ele a aridez da montanha,
O Inverno de quentes ilusões,
As noites de embalo enganoso.
Acabaram as falácias de vidas
(Quase) perfeitas.
Tu és a minha vida.
Morre fantasma de gelo!
Já não te temo!
Ali vai a maluquinha!
Vejam! Vejam!
- Ela não está muito contente... será que vai fazer alguma ruindade?
A desafortunada só está triste
Por não ter onde pertencer,
Poucos gostarem dela,
E os que gostam, nada podem fazer
Para evitar a crueldade dos julgamentos.
Ali vai a maluquinha!
Vejam! Vejam!
- Ela está a chorar... De certeza que é fingimento dela!
Nunca os que ela deseja
A podem ajudar.
Uns não podem,
Outros não querem,
Nem sequer estar com ela.
- Não fica bem privar com uma demente! Com tanta gente para quê perder tempo com ela?
Ali vai a maluquinha!
Vejam! Vejam!
Já tem medo de sair,
Já tem medo de falar,
Todos a julgam só de olhar,
Todos são melhores,
Todos tão bonitos, tão perfeitos,
Até os que estão tristes
Têm uma causa melhor
Para a sua tristeza.
- És uma fraca desculpa para mulher! Desaparece das nossas vidas!
Onde está a maluquinha?
Onde? Onde?
Atendeu os pedidos
De todos os que são bons,
Perfeitos, melhores que ela.
- Ela volta de certeza! Não pode desaparecer!...
Precisamos de alguém para pisar!
Deformações da
Minha realidade
Em tons de azul...
Flores azuis de
Mistérios extravagantes,
Delírios, ilusões anil escuro,
Sonhos de desejo impuro,
Luas de tentação fatal.
Rodeiam-me!
Assaltam-me!
O pesadelo vai terminar.
Vou despertar da ânsia
De te ter, a ti, só a ti.
Não te vou partilhar,
Com frívolas que choram,
Frívolas que te desejam,
E te enganam com lágrimas ocas.
Mas isso será verdade?
Ou será mais um dos
Meus delírios azuis?
Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja para sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei..
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também
Oswaldo Montenegro